quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pensamentos e Pensadores

"Morrer é como sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém."
Pedro Bial

Sobre a morte

Apesar de ser a única certeza que temos na vida é um assunto que as pessoas evitam tratar. Talvez seja pela dor da ausência, pelas mudanças forçadas que traz, pela dúvida de haver algo depois da passagem ou por simplesmente ser o fim. O que me assusta é ser SIMPLESMENTE o fim. A relevância de uma vida cheia de histórias, de bons e maus momentos, erros e acertos, dor, sofrimento, alegrias, euforias, recordações, saudades, paixões, amores, lembranças, arrependimentos e sonhos, tudo isso somado se esvaindo num SIMPLES suspiro. Morte, a mesma para pobres e ricos, homens e mulheres, sem credo, etnia, religião e caráter. Algumas são heróicas, amparadas por uma causa ou razão, quase uma opção, outras, a maioria delas, são serenas, sem escolha e cheias de luta, cujo único critério foi a ironia da vida. A irrelevância da vida perante a morte por sua própria ironia. Não somos nada, não temos nada nem ninguém, nada nos pertence, a não ser as opções que tomamos em vida. Por que a levamos tão a sério se sabemos que não sairemos dela vivos? Tempus fugit, carpe diem, só por hoje... aproveitarei a vida nas sua simplicidade para assim melhor aceitar a morte!

A tudo dai graças

Quando ficamos sabendo sobre a existência de “algo” no estômago do meu pai, logo considerei a hipótese de um câncer. Minha primeira atitude depois de lamentar foi a de louvar a Deus pela nossa história e por tudo que passamos juntos. Tanto eu como meu pai demos os nossos vacilos, porém em determinado ponto de nossas vidas percebemos que o rumo da nossa história estava em nossas mãos. Tinhamos dois caminhos a seguir, o de pai e filho que se amavam e não se envergonhavam disso ou a de dois estranhos que dividiam a mesma casa e mal se falavam. A nossa opção foi a primeira e a partir daí os milagres em nossas vidas foram acontecendo a cada abraço, beijo, colo e carinho. Cada um ao seu tempo, do seu jeito. Soubemos aproveitar nossos momentos e as oportunidades que Deus nos deu de sermos felizes, eu dei o primeiro passo, mas meu pai aceitou o momento em que eu estendi a mão para que caminhássemos juntos. Meu pai faleceu em menos de um mês a partir da cirurgia para a retirada total do estômago, por conta do organismo debilitado pela desnutrição não resistiu a elevada carga de medicamentos e partiu para a eternidade numa manhã de quarta-feira. Ainda bem que aproveitei todas as oportunidades que tive para dizer o quanto me orgulho em ser filho dele, pois nas últimas vezes que o vi ele estava em coma induzido e eu não pude ver o brilho dos seus olhos ao ouvir o meu EU TE AMO. O tempo passa muito depressa e nem sempre temos tempo de nos despedir das pessoas que amamos, o que felizmente não foi o meu caso. Partilho a minha história para que você pare agora de ler este texto e vá até as pessoas que você ama e mesmo em tom de brincadeira diga o quanto são importantes para a sua vida.

Aprendi com meu pai

No livro ‘Aprendi com meu pai’ de Luís Colombini, 54 pessoas descrevem as experiências e a lição mais importante que aprenderam com seus pais.
Inspirado nesta obra, segue a homenagem póstuma que fiz ao meu pai.
Aprendi com meu pai, por Luiz Cláudio da Silva Pinto
Aprendi com meu pai que caráter é algo que independe de erros e acertos;
Aprendi com meu pai que o amor deve ser expresso mais em gestos do que em palavras;
Aprendi com meu pai que toda e qualquer oportunidade de vida não deve passar em branco;
Aprendi com meu pai que o homem é livre para fazer suas escolhas mesmo sabendo que optou pela errada;
Aprendi com meu pai que o dia deve ser composto por declarações de amor, que a vida é sublime e que os maus momentos devem ser vividos na mesma intensidade que os bons;
Aprendi com meu pai que o arrependimento é um sentimento nobre e de pessoas que não se deixam abater pelos seus erros;
Aprendi com meu pai que para falar de Deus não preciso usar palavras;
Aprendi com meu pai que o amor sempre vem de maneira que não esperamos;
Aprendi com meu pai que a mudança do mundo começa pelas minhas atitudes;
Aprendi com meu pai que homem chora e diz eu te amo;
Aprendi com meu pai que o que muitas vezes precisamos para aproveitar uma oportunidade é de uma mão estendida.
Posso ter aprendido mais com os erros do que com os acertos do meu pai, mas aprendi também que o mais importante é ensinar independente do método.
*Meu pai faleceu de câncer aos 55 anos no dia 14/10/2009.